terça-feira, 8 de novembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
ENTENDES O QUE VÊS?
Uma reflexão sobre a “Babel” da pregação televisa e seus reflexos no cotidiano batista.
“Entendes o que vês” tem uma semelhança sonora com a pergunta que Felipe fez ao eunuco quando este lia o livro de Isaias, sozinho, enquanto sua carroça caminhava. Ao perguntar ao empregado da rainha “Entende o que lês?” a resposta foi imediata: “como poderei entender se alguém não me ensinar”. Ele pediu a Felipe que subisse no carro e explicasse as Escrituras.
Temos, neste episódio, um homem bem intencionado, interessado nas coisas de Deus, mas sem as condições mínimas de conhecimento para discernir, sequer, de quem o profeta falava. Para sorte desse homem, Felipe fora enviado por Deus para encontrá-lo e mostrar o sentido da Palavra de Deus. Infelizmente, não temos tido a mesma sorte com aqueles que ocupam longas horas na televisão, colocando-se na posição de Felipe, com a pretensão de interpretar a bíblia para o povo que os assistem.
A Babel está formada. Esses homens já não se contentam apenas em usar textos isolados da Palavra de Deus para apoiar seus pontos de vista, quase sempre tendenciosos, ou sua doutrina. O tempo disponível é tanto, que ainda dá para usar a Palavra para acusar seus concorrentes ou defender-se deles para garantir o disputado mercado dos contribuintes, auxiliares, associados, gideões, parceiro fiel, colunas e outros adjetivos. A Palavra de Deus serve apenas como um apoio sagrado à idéia de que o investimento no seu ministério é o que tem o retorno mais garantido.
A que atribuir tamanho desvio dos propósitos do texto? Poderíamos considerar como o fenômeno da heresia involuntária, por não entenderem o que lêem? Penso que nem o mais longânimo dos críticos daria o benefício desta dúvida a esses pregadores. Parece-nos que, deliberadamente, a idéia é trazer confusão na mente daqueles que, não satisfeitos com os poucos minutos que desfrutam da mensagem na sua igreja, complementam sua jornada espiritual, como que tentando mostrar para Deus que não vai aos cultos de oração e estudo bíblico, mas gastam horas em frente à TV ouvindo o dissidente do dissidente que formou seu próprio império eclesiástico do qual ele é o sumo pontífice e do qual ninguém ousa discordar.
Tornou-se um vício. As pessoas começam com Silas Malafaia e RR Soares. E não há quem diga que nunca foi abençoado, pelo menos uma vez, ao ligar a TV na madrugada e ouvir um homem aos gritos pregando. Aos poucos, no entanto, uma mensagem, teologicamente moderada, e que trata de vida cristã já não satisfaz e o membro passa a consumir pequenas doses dos pregadores clonados da IURD e só acorda no domingo com o grande culto no templo maior ouvindo o próprio Edir Macedo. Mas um viciado é um viciado e ele começa a ter suas rotinas de consumo alternando Record e Rede Gospel com precisão suíça de horário. Estevam e Sônia Hernandes estão num patamar de consumo mais restrito, pois só são encontrados na TV paga. Isso atenua os efeitos em algumas igrejas. Mas como escapar do Waldomiro? Ele é encontrado em todo lugar a todo o momento. Conheço pessoas que consomem, no mesmo dia, doses elevadas de Waldomiro associadas com Sônia Hernandes.
Você conhece a estória do sujeito viciado em cachorro quente que um dia pôde comer o quanto agüentasse? Pois é, ele comeu vinte sanduíches e começou a passar mal. Alguém lhe disse “tome um sonrisal que melhora”. A resposta foi. “Se houvesse algum espaço no meu estômago eu comeria mais um cachorro quente”. Pois é, quando chega a hora de ler a bíblia, ir a um culto no lar ou mesmo assistir o programa do Pr. Kenji ou de ver Hernandes Dias Lopes não há espaço para mais nada. A mente está sobrecarregada com overdose de pregação televisiva massificada.
Qual o reflexo imediato disso nas nossas igrejas?
Começa, como já dissemos, pela sensação de saciedade espiritual. Como quem comeu um quilo de salgadinho de isopor.
Ato contínuo, o abandono da leitura sistemática da bíblia. Afinal, já vem tudo pronto e “interpretado”.
Aos poucos esses pregadores que ocupam canais e horários permanentes passam a ser os pastores virtuais desses consumidores compulsivos. Eles são a referência de fé, de prosperidade, de entusiasmo, de perseverança.
Um pouco mais e reflexos se estendem ao ambiente da igreja. O pastor local já não é tão eloqüente, a igreja não tem tanta gente, não se dá notícias de tantos milagres, ninguém fica milionário da noite para o dia, algo está errado na igreja.
Passa então para as crises existenciais. Por que o pastor da TV prospera tanto e o nosso pastor continua com seu fusquinha?
Não há problema em ver programas evangélicos na TV. Ainda é melhor do que ver novelas e pornografia. A grande preocupação é: Entendem o que vêem? São mensagens antagônicas. São discursos excludentes. Se você acredita em um, não pode aceitar o outro. O excesso de pregação triunfalista, sem cruz, sem santidade, sem amor ao próximo, fez com que as pessoas, antes criteriosos em suas escolhas, perdessem completamente o senso crítico. Consomem tudo, aceitam tudo, acreditam em tudo. Como diria minha mãe: acendem uma vela para Deus e outra para o diabo.
O óbvio não tem sido visto. A pregação vai na contra-mão do ensino de Jesus. A vida de aparência no palco, parecendo que tudo está sempre bem debaixo de uma “cobertura apostólica” que eu não sei de onde vem. A prosperidade dos líderes religiosos atesta sua pregação. Essa prosperidade, no entanto, vem das ofertas dos seguidores-consumidores fiéis. Que não percebem que é uma simples transferência de fundos.
As pessoas não estão entendendo o que vêem, mas estão consumindo. Talvez se entendessem, não veriam. Se cabe uma sugestão, gaste esse tempo lendo a bíblia, orando, visitando um enfermo, participando de um pequeno grupo de comunhão, grave o sermão do seu pastor e ouça várias vezes, leia um livro, ouça boa música cristã. Faça algo diferente edificante.
Não estamos fechados ao fato de Deus usar qualquer um desses pregadores para falar conosco – lembre-se de Balaão. Mas se a mensagem começar a tomar um rumo do tipo Deus está só nesta igreja, ou você pode tudo sem mudar nada, não há problema com o pecado porque Cristo já pagou na cruz, pule fora. Assista o “Chaves” que, pelo menos, tem sempre uma lição moral no final.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
IRONIAS DO DIA DOS PAIS
Ontem fez um ano que enterrei meu pai. Ironicamente na hora do almoço do dia dos pais.
Pela distância de 550 km e pelos compromissos de pastor , os últimos anos foram ausentes de toda celebração de família. Natal, Ano novo, Aniversários e, claro, Dia dos Pais se resumiram a telefonemas de felicitações. As visitas eram sempre nas férias. É muito pouco para quem deve tanto aos pais.
Meu primogênito, que hoje tem trinta anos, nasceu numa sexta-feira que antecedeu o dia dos pais. Minha esposa ainda estava no hospital e eu já recebia meu primeiro presente do dia dos pais na igreja. Nunca me esqueci. Foi um pente (que hoje não serviria para nada) e um lenço (que é o que eu mais preciso hoje). Nunca me senti tão importante.
Vinte e nove anos depois, no aniversário do meu filho, eu que não pude estar com meu pai nos últimos vinte "Dia dos Pais", deixei tudo, viajei e estava ali para enterrá-lo. Nunca me senti tão inútil.
São ironias, mas nem todas do destino. Se eu não tive influência em ser pai tão perto do dia dos pais, tive em só estar perto do meu pai naquele dia dos pais em especial.
Não haverá um amigo na terra igual ao Seu Arlindo, mas ainda há outros e eu estou descobrindo a duras penas que o tempo não para, estando perto ou longe. Que os anos ficam mais curtos quando a gente envelhece e que uma perda dói muito mais quando se perdeu tempo não estando junto.
Ainda tenho mãe, irmãs, esposa, filhos noras e netas. Tenho bons amigos espalhados por aí que, teimosamente, vejo pouco. Que a misericórdia de Deus me permita aprender a desfrutar de suas companhias por muito tempo.
Um escritor brincou, uma vez, dizendo que suas melhores idéias foram roubadas por aqueles que viveram antes dele. Digo isso de Fernando Pessoa que me roubou as palavras que eu queria dizer nesse Dia dos Pais sem meu pai. Meu melhor amigo.
Ao meu grande amigo
"Um dia, a maioria de nós irá se separar.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora,
as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que compartilhamos.
Sentiremos saudades até dos momentos de lágrimas,
da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano,
enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje, não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve, cada um vai para um lado, seja pelo destino,
ou por algum desentendimento, e seguirá a sua vida.
Talvez, continuemos a nos reencontrar, quem sabe...
através dos e-mails trocados. Podemos nos
telefonar, conversar algumas bobagens...
Aí os dias vão passar, meses. anos...
até este contato, tornar-se-á cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo...
Um dia, nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão:
'Quem são aquelas pessoas?'
E, diremos... que eram nossos amigos. E...
isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, e foi com eles que vivi
os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
E quando nosso grupo estiver incompleto...
nos reuniremos para um último ADEUS de um amigo.
E entre lágrimas, nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado, para continuar a viver a sua
vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo:
não deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades,
seja a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
Fernando Pessoa
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sexta-feira, 29 de julho de 2011
Moçambique - Siluvo
Moçambique - Siluvo
Moçambique - Siluvo
Visita à Moçambique (continuação)
quarta-feira, 13 de julho de 2011
VISITA À MOÇAMBIQUE
quinta-feira, 2 de junho de 2011
PARA QUE SERVEM AS VITÓRIAS?
Permitam-me contar um exemplo pessoal sobre o sabor da vitória. Eu volto no tempo e vejo meus dois filhos ainda na escolinha do Handebol do Tamoyo. O Lucas, bem menor que o Thiago e ambos com características esportivas bem distintas um do outro. O Lucas, muito rápido, atacava e defendia numa velocidade espantosa. Por ser canhoto e de baixa estatura era muito difícil impedir suas fintas de corpo. O Thiago jogava mais cadenciado, mais pelo meio, só atacava na certeza. Finta de braço, mudança de direção e potência no arremesso eram suas especialidades.
Para quem não conhece o fim da história, pode imaginar dois craques que hoje são jogadores bem sucedidos em times do exterior, colecionadores de troféus e medalhas. Ledo engano. Sempre jogaram em time pequeno e, pelo menos nos jogos que eu assisti, e que foram muitos, quando tinham entre 12 e 16 anos, poucas vezes os vi saírem vitoriosos contra equipes tradicionais do Handebol. Essas poucas vitórias, no entanto, valia a pena pela felicidade que ela produzia. A esperança renascia e a expectativa que na próxima poderia acontecer outra vitória e a confiança aumentava.
Nas derrotas, da arquibancada, eu sofria junto e tentava consolá-los, mas nessas horas não há palavras que consolem um pré-adolescente e um adolescente. A técnica do time gritava o tempo todo com o time e minha esposa, obviamente, queria bater nela.
Após cada jogo, ganhando ou perdendo eles iam para casa e curávamos suas feridas no corpo e no orgulho. Eu cheguei a pensar: para que serve tudo isso? Tanto treino, tanto empenho, tanta luta para nada?
Só muitos anos mais tardede eu percebi que, independente do número de derrotas ou vitórias, eles aprenderam a lutar sem desistir até o último minuto da partida e que quanto maior a luta mais doce é o sabor da vitória.
Hoje são pais de família. Lutam diariamente contra os males do nosso tempo. Incertezas quanto ao futuro dos filhos, dificuldades financeiras, busca do seu espaço profissional, pressões e opressões espirituais, liderança familiar e outras batalhas que todos nós bem conhecemos. Algumas vezes perdem, outras ganham. O que me conforta é que já aprenderam que, assim como uma partida é apenas parte de um campeonato mais longo, as derrotas ou vitórias em determinados momentos da vida, fazem parte de um plano maior de Deus e que o prêmio maior não será pelo resultado de cada partida, mas pela forma como foi jogado todo o campeonato.
Na vida, continuamos na arquibancada, eu e a minha esposa, como há muitos anos. Podemos torcer, mas não podemos jogar. Podemos nos irritar e até gritar com quem faz uma falta violenta, fazendo um deles sofrer, mas não podemos entrar em quadra. Podemos dar nossos palpites, como torcedores, mas sabemos que, muitas vezes, pelo barulho do ambiente e pelo calor da partida, nem ouvirão. O que sentimos falta é de voltarem para casa podermos curar suas feridas como quando eram crianças. Hoje são eles quem têm que cuidar dos seus.
Somos pais como tantos outros. Que apenas torcem para que seus filhos nunca percam e esperança e a tenacidade. Para que lutem até o final e que tragam na mente o último resultado positivo, que ainda sintam o doce sabor da vitória, sabendo que Deus poderá repeti-lo muitas outras vezes, se continuarem lutando. O profeta Jeremias sabia muito bem usar sua memória seletiva. À sua mente ele trazia aquilo que lhe dava esperança.
Aquele tempo foi bom para que eu aprendesse qua a vitória existe, não para tripudiar sobre o adversário vencido, mas para servir de esperança quando em combate com um adversário mais forte. Nossa memória pode ser nossa fonte de inspiração e de encorajamento se for usada de forma positiva.A confiança e alegria com que meus filhos jogavam uma nova partida, pensando na última, e inacreditável, vitória, atestam as palavras de Jeremias.
Pense em quantas vezes Deus te deu vitória sobre uma situação aparentemente sem saída. Traga isso à memória quando enfrentar novos e grandes desafios. Não permita que pensamentos derrotistas e experiências mal sucedidas minem sua confiança em Deus. Ele pode reeditar uma vitória espetacular.
Boa luta!
sábado, 7 de maio de 2011
pastoral dia das mães 2011
Parece que virou moda mães abandonarem seus filhos em lixeiras, terrenos baldios, matas ou até jogarem na água para morrer. A desculpa é sempre a mesma quando a pessoa consegue ser presa: “Eu não tinha condição de criar”.
Ser mãe, realmente assusta, modifica comportamentos, redefine prioridades. Quando falo em maternidade, não me refiro ao ato de dar a luz, mas de ter um contato, primeiro visual, depois físico e, por último, afetivo. Uma pessoa se torna mãe, quando toma consciência de que o é. É um caminho sem volta. Quando se percebe mãe, a vida passa a ter outra cor. Por isso algumas querem se livrar dos bebês antes que se tornem seus filhos de verdade.
Você já viu uma mamãe do reino animal defender seus filhotes? Não há limites para a sua luta. Ela vai até as últimas conseqüências. É um instinto nato das mães. Esse é o estado de mãe, não é uma experiência é um estado se ser.
Quando vejo mães dedicadas, eu entendo porque algumas malucas que se aventuraram no sexo, engravidaram e, ao dar a luz, tem coragem de dar fim em um ser frágil, antes de olhar seu rosto ou tomá-lo nos braços. Quem vivem essa experiências de se perceber mãe, não tem coragem de se desfazer da sua cria, mesmo contra todas as adversidades. É melhor não começar a ser mãe, pois é um caminho sem volta.
Aquelas que decidem serem mães sabem que as noites não são mais suas; que o melhor já é não é para si; que numa loja, a primeira imagem que vem à mente dentro de uma roupa à venda é a do filho.
Quem decidiu ser mãe, optou por suportar ingratidão, optou por ter questionada sua sabedoria, optou por estar disposta a dividir o problema dos filhos, mas somá-los aos seus. Optou por fingir que não se fere, para não ferir os sentimentos dos filhos.
O valor da mãe não está no que ela faz, pois ninguém percebe que ela faz. O valor da mãe está na falta que fará seus cuidados quando ela não estiver mais por perto. Infelizmente, os casos em que as mães são reverenciadas pelos seus filhos, em vida, são exceção.
O valor da mãe não está no que ela faz, mas no que ela permite que se faça com ela por amor aos filhos.
O valor da mãe não esta no que ela faz, mas no que ela deixa de fazer para que seus filhos caminhem mais rápidos, tenham sua atenção, cresçam sendo amados, mesmo que não percebam.
O valor da mãe não está no que ela faz, mas no que Deus faz através dela, e isso, só Deus sabe.
Não dá para medir o valor de uma mãe, não porque falta critérios, mas porque é imensurável e só a eternidade revelará o valor de cada mãe.
Receba, mãe, nossa reverência. Ainda que nunca saberemos o seu real valor, muito obrigado pelo que não sabemos.
Um filho.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
QUAL O VALOR DE UM LÁPIS?
Lápis foi um dos produtos, juntamente com pente masculino, caixa de fósforos, dedal de costura, prendedor de roupas e outros, que ninguém, de uma série de entrevistados por um programa de televisão, tinha noção do preço. As repostas variaram em mais de 3.000% para o mesmo produto. Eu também não sei quanto custa um lápis, mas sei qual o seu valor quando bem utilizado.
Quando eu digo bem utilizado, não me restrinjo ao uso da grafite que nele há e que permite aos poetas produzirem textos que encantam, ou aos engenheiros fazerem projetos que revolucionam ou mesmos aos artistas a fazerem dos traços sua forma de emocionar.
Não, amigos, não é disso que falo. Me refiro magia que havia no lápis que o irmão Antônio trazia no bolso interno do seu paletó sempre alinhado e a forma como ele o retirava para entregar ao grande vencedor do dia. Não era apenas um lápis, era um troféu. A emoção da entrega e a ênfase com que ele anunciava o ganhador tornavam o momento ímpar. Era, para um menino de dez ou doze anos, a mesma emoção que sente um jogador de futebol ao ouvir seu nome anunciado para ganhar a bola de ouro.
Para entender o valor desse lápis com poderes mágicos é preciso voltar quarenta anos no tempo. Uma classe de intermediários, que depois passou a classe de adolescentes e hoje são os “teens”. A reunião se repetia no mesmo modelo domingo após domingo. Um adolescente dirigia os trabalhos, alguém apresentava uma música, os grupos falavam seus pontos e ao final, as perguntas da bíblia feitas pelo irmão Antônio, nosso líder, que falava como se fora um grande general e nos envolvia neste clima fazendo-nos sentir, também, soldados valorosos.
Era um homem calmo, de gestos leves, sorriso discreto, voz mansa e que nunca perdeu a linha com nenhum daqueles que liderava. Era admirável sua habilidade de tirar do bolso um lápis para dar ao vencedor do dia como quem entrega um grande troféu de ouro maciço. Todos queriam ganhar o lápis. Alguns, menos humildes, entravam no templo para o culto exibindo seu troféu do sábio do dia. Eu era um deles. Eu me sentia o maioral quando ganhava. Haviam muitos que eram melhores do que eu.
Hoje ainda não sei quanto custa um lápis, mas eu sei o valor daquele lápis em particular. Aquele lápis fez de todos, vencedores, porque aprendemos a amar o estudo da Palavra de Deus. Aquele lápis, talvez, tenha salvado carreiras profissionais, porque ensinou que é preciso esforço para ser recompensado. Aquele lápis deve ter salvado relacionamentos porque muitas vezes ensinou renúncia. Quando havia empate alguém tinha que ceder.
Aquela geração foi privilegiada. Aquele lápis imprimiu marcas tão profundas no caráter daqueles pré-adolescentes que, hoje, quando nos encontramos pastores, advogados, líderes de igrejas, de grandes corporações, empresários bem sucedidos, agricultores, etc, ainda comentamos do lápis do irmão Antônio.
Há pouco tempo o Senhor o recolheu. Morreu como viveu: sorrindo, falando das coisas de Deus, influenciando positivamente alguém. Sua morte interrompeu a organização da terceira igreja que ele começara do nada. Para ser justo, na verdade não era nada: Uma bíblia na mão, um caderno com hinos do Oséias de Paula que ele insistia em fazer solos, sua companheira fiel ao lado e, certamente, um lápis no bolso. Um infarto fulminante interrompeu uma alegre conversa com um irmão em Cristo e, pela primeira vez, deixou alguém falando sozinho.
Faltarão lápis para escrever o quanto esse homem contribuiu na formação de toda uma geração de meninos e meninas que, há quarenta anos, apenas queriam ganhar o lápis do irmão Antônio sem saber o que isso representaria para suas vidas.
domingo, 2 de janeiro de 2011
MISERICÓRDIA OU COMPAIXÃO?
“Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai” (Lc 6.36)
Eu vejo Jesus mais preocupado em exortar seus discípulos à misericórdia do que à compaixão. Certamente não é porque uma virtude é mais importante do que a outra, e sim porque o ter compaixão se encaixa mais facilmente ao perfil do ser humano do que ter misericórdia.
Qual a diferença entre compaixão e misericórdia? Imaginamos misericordioso, aquele sujeito que não pode ver um mendigo na rua que já oferece sua roupa, sua comida, leva ao hospital, etc. É o bom samaritano do século 21. Não é bem assim. Isto não é misericórdia é compaixão.
Por definição, compaixão é a forma como você lida com a necessidade ou a dor do indivíduo. Misericórdia, a forma com que você lida com o erro ou a culpa do indivíduo.
Há muito mais pessoas (embora não em número suficiente) dispostas a exercer compaixão do que misericórdia. Por várias razões.
A compaixão tem a ver com o bem estar pessoal. Fazer o bem torna um ser humano grande e melhor que os outros. Se posso ajudar é porque estou, pelo menos, um pouco melhor do que aquele que estou ajudando. Esse pensamento está em plena harmonia com o pensamento humano, incluindo os não cristãos. Aparenta grandeza de caráter.
Misericórdia é diferente. Exige mais de nós, causa dor, gera perdas, e para os que não conhecem misericórdia, aparenta fraqueza e muitos a tem por conivência com o erro.
As pessoas que só têm compaixão socorrem os necessitados, mas se esses se mostrarem ingratos ou fizerem algum mal a eles, descarrega toda a sua ira e arrependimento por ter ajudado e promete nunca mais ajudar aquele ingrato.
Misericórdia é perdoar quantas vezes forem necessárias com o mesmo sorriso e a mesma confiança.
Misericórdia não lança em rosto o pecado passado. Misericórdia olha para a necessidade daquele que não merece nenhuma ajuda e só vê a necessidade e não o merecimento.
Misericórdia é olhar para um bêbado agressivo, um drogado perigoso, um aproveitador e pensar... Ele precisa de Jesus mais do que qualquer outro.
Misericórdia é investir na vida de uma pessoa desprezível e desprezada pela sociedade e sofrer todos os danos até que ela venha ter sua vida transformada por Jesus.
Misericórdia é receber publicanos e pecadores por achar que eles precisam mais de médicos espirituais do que os “santinhos”.
Misericórdia, em suma, é sentir o que Deus sentiu por nós e, por causa disso nos amou e nos salvou. Às vezes esquecemos nossa história e vivemos um personagem – filho do altíssimo – que não puxou em nada ao Pai.
Jesus em Luca 6:32-36 nos mostra o que é misericórdia:
32. “Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. 33. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. 34. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. 35. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. 36. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.”Ainda bem que Jesus não é como nós. Ele é misericordioso. Se não fosse a misericórdia de Cristo não haveria igreja, porque a igreja é formada pelos mais miseráveis pecadores que foram, não só aceitos, mas buscados por Ele.
As pessoas que não querem a presença de miseráveis pecadores na igreja, são as mesmas que cantam: “Buscou-me com ternura, Jesus o Salvador. Achou-me na miséria salvou-me com amor”
Não se iluda! Compaixão não é misericórdia.
“Bem aventurado os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia”. (palavras de Jesus)
Fique na Paz