Pastor Sidnei Azevedo
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
CONVERSA COM A ALMA
terça-feira, 8 de novembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
ENTENDES O QUE VÊS?
Uma reflexão sobre a “Babel” da pregação televisa e seus reflexos no cotidiano batista.
“Entendes o que vês” tem uma semelhança sonora com a pergunta que Felipe fez ao eunuco quando este lia o livro de Isaias, sozinho, enquanto sua carroça caminhava. Ao perguntar ao empregado da rainha “Entende o que lês?” a resposta foi imediata: “como poderei entender se alguém não me ensinar”. Ele pediu a Felipe que subisse no carro e explicasse as Escrituras.
Temos, neste episódio, um homem bem intencionado, interessado nas coisas de Deus, mas sem as condições mínimas de conhecimento para discernir, sequer, de quem o profeta falava. Para sorte desse homem, Felipe fora enviado por Deus para encontrá-lo e mostrar o sentido da Palavra de Deus. Infelizmente, não temos tido a mesma sorte com aqueles que ocupam longas horas na televisão, colocando-se na posição de Felipe, com a pretensão de interpretar a bíblia para o povo que os assistem.
A Babel está formada. Esses homens já não se contentam apenas em usar textos isolados da Palavra de Deus para apoiar seus pontos de vista, quase sempre tendenciosos, ou sua doutrina. O tempo disponível é tanto, que ainda dá para usar a Palavra para acusar seus concorrentes ou defender-se deles para garantir o disputado mercado dos contribuintes, auxiliares, associados, gideões, parceiro fiel, colunas e outros adjetivos. A Palavra de Deus serve apenas como um apoio sagrado à idéia de que o investimento no seu ministério é o que tem o retorno mais garantido.
A que atribuir tamanho desvio dos propósitos do texto? Poderíamos considerar como o fenômeno da heresia involuntária, por não entenderem o que lêem? Penso que nem o mais longânimo dos críticos daria o benefício desta dúvida a esses pregadores. Parece-nos que, deliberadamente, a idéia é trazer confusão na mente daqueles que, não satisfeitos com os poucos minutos que desfrutam da mensagem na sua igreja, complementam sua jornada espiritual, como que tentando mostrar para Deus que não vai aos cultos de oração e estudo bíblico, mas gastam horas em frente à TV ouvindo o dissidente do dissidente que formou seu próprio império eclesiástico do qual ele é o sumo pontífice e do qual ninguém ousa discordar.
Tornou-se um vício. As pessoas começam com Silas Malafaia e RR Soares. E não há quem diga que nunca foi abençoado, pelo menos uma vez, ao ligar a TV na madrugada e ouvir um homem aos gritos pregando. Aos poucos, no entanto, uma mensagem, teologicamente moderada, e que trata de vida cristã já não satisfaz e o membro passa a consumir pequenas doses dos pregadores clonados da IURD e só acorda no domingo com o grande culto no templo maior ouvindo o próprio Edir Macedo. Mas um viciado é um viciado e ele começa a ter suas rotinas de consumo alternando Record e Rede Gospel com precisão suíça de horário. Estevam e Sônia Hernandes estão num patamar de consumo mais restrito, pois só são encontrados na TV paga. Isso atenua os efeitos em algumas igrejas. Mas como escapar do Waldomiro? Ele é encontrado em todo lugar a todo o momento. Conheço pessoas que consomem, no mesmo dia, doses elevadas de Waldomiro associadas com Sônia Hernandes.
Você conhece a estória do sujeito viciado em cachorro quente que um dia pôde comer o quanto agüentasse? Pois é, ele comeu vinte sanduíches e começou a passar mal. Alguém lhe disse “tome um sonrisal que melhora”. A resposta foi. “Se houvesse algum espaço no meu estômago eu comeria mais um cachorro quente”. Pois é, quando chega a hora de ler a bíblia, ir a um culto no lar ou mesmo assistir o programa do Pr. Kenji ou de ver Hernandes Dias Lopes não há espaço para mais nada. A mente está sobrecarregada com overdose de pregação televisiva massificada.
Qual o reflexo imediato disso nas nossas igrejas?
Começa, como já dissemos, pela sensação de saciedade espiritual. Como quem comeu um quilo de salgadinho de isopor.
Ato contínuo, o abandono da leitura sistemática da bíblia. Afinal, já vem tudo pronto e “interpretado”.
Aos poucos esses pregadores que ocupam canais e horários permanentes passam a ser os pastores virtuais desses consumidores compulsivos. Eles são a referência de fé, de prosperidade, de entusiasmo, de perseverança.
Um pouco mais e reflexos se estendem ao ambiente da igreja. O pastor local já não é tão eloqüente, a igreja não tem tanta gente, não se dá notícias de tantos milagres, ninguém fica milionário da noite para o dia, algo está errado na igreja.
Passa então para as crises existenciais. Por que o pastor da TV prospera tanto e o nosso pastor continua com seu fusquinha?
Não há problema em ver programas evangélicos na TV. Ainda é melhor do que ver novelas e pornografia. A grande preocupação é: Entendem o que vêem? São mensagens antagônicas. São discursos excludentes. Se você acredita em um, não pode aceitar o outro. O excesso de pregação triunfalista, sem cruz, sem santidade, sem amor ao próximo, fez com que as pessoas, antes criteriosos em suas escolhas, perdessem completamente o senso crítico. Consomem tudo, aceitam tudo, acreditam em tudo. Como diria minha mãe: acendem uma vela para Deus e outra para o diabo.
O óbvio não tem sido visto. A pregação vai na contra-mão do ensino de Jesus. A vida de aparência no palco, parecendo que tudo está sempre bem debaixo de uma “cobertura apostólica” que eu não sei de onde vem. A prosperidade dos líderes religiosos atesta sua pregação. Essa prosperidade, no entanto, vem das ofertas dos seguidores-consumidores fiéis. Que não percebem que é uma simples transferência de fundos.
As pessoas não estão entendendo o que vêem, mas estão consumindo. Talvez se entendessem, não veriam. Se cabe uma sugestão, gaste esse tempo lendo a bíblia, orando, visitando um enfermo, participando de um pequeno grupo de comunhão, grave o sermão do seu pastor e ouça várias vezes, leia um livro, ouça boa música cristã. Faça algo diferente edificante.
Não estamos fechados ao fato de Deus usar qualquer um desses pregadores para falar conosco – lembre-se de Balaão. Mas se a mensagem começar a tomar um rumo do tipo Deus está só nesta igreja, ou você pode tudo sem mudar nada, não há problema com o pecado porque Cristo já pagou na cruz, pule fora. Assista o “Chaves” que, pelo menos, tem sempre uma lição moral no final.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
IRONIAS DO DIA DOS PAIS
Ontem fez um ano que enterrei meu pai. Ironicamente na hora do almoço do dia dos pais.
Pela distância de 550 km e pelos compromissos de pastor , os últimos anos foram ausentes de toda celebração de família. Natal, Ano novo, Aniversários e, claro, Dia dos Pais se resumiram a telefonemas de felicitações. As visitas eram sempre nas férias. É muito pouco para quem deve tanto aos pais.
Meu primogênito, que hoje tem trinta anos, nasceu numa sexta-feira que antecedeu o dia dos pais. Minha esposa ainda estava no hospital e eu já recebia meu primeiro presente do dia dos pais na igreja. Nunca me esqueci. Foi um pente (que hoje não serviria para nada) e um lenço (que é o que eu mais preciso hoje). Nunca me senti tão importante.
Vinte e nove anos depois, no aniversário do meu filho, eu que não pude estar com meu pai nos últimos vinte "Dia dos Pais", deixei tudo, viajei e estava ali para enterrá-lo. Nunca me senti tão inútil.
São ironias, mas nem todas do destino. Se eu não tive influência em ser pai tão perto do dia dos pais, tive em só estar perto do meu pai naquele dia dos pais em especial.
Não haverá um amigo na terra igual ao Seu Arlindo, mas ainda há outros e eu estou descobrindo a duras penas que o tempo não para, estando perto ou longe. Que os anos ficam mais curtos quando a gente envelhece e que uma perda dói muito mais quando se perdeu tempo não estando junto.
Ainda tenho mãe, irmãs, esposa, filhos noras e netas. Tenho bons amigos espalhados por aí que, teimosamente, vejo pouco. Que a misericórdia de Deus me permita aprender a desfrutar de suas companhias por muito tempo.
Um escritor brincou, uma vez, dizendo que suas melhores idéias foram roubadas por aqueles que viveram antes dele. Digo isso de Fernando Pessoa que me roubou as palavras que eu queria dizer nesse Dia dos Pais sem meu pai. Meu melhor amigo.
Ao meu grande amigo
"Um dia, a maioria de nós irá se separar.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora,
as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que compartilhamos.
Sentiremos saudades até dos momentos de lágrimas,
da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano,
enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje, não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve, cada um vai para um lado, seja pelo destino,
ou por algum desentendimento, e seguirá a sua vida.
Talvez, continuemos a nos reencontrar, quem sabe...
através dos e-mails trocados. Podemos nos
telefonar, conversar algumas bobagens...
Aí os dias vão passar, meses. anos...
até este contato, tornar-se-á cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo...
Um dia, nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão:
'Quem são aquelas pessoas?'
E, diremos... que eram nossos amigos. E...
isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, e foi com eles que vivi
os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
E quando nosso grupo estiver incompleto...
nos reuniremos para um último ADEUS de um amigo.
E entre lágrimas, nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado, para continuar a viver a sua
vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo:
não deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades,
seja a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
Fernando Pessoa
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