segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Pastoral do Boletim de 10/02

Você tem medo de rir?

Você já reparou que, para algumas pessoas, rir parece uma falha de caráter. Para estas pessoas, rir significa imaturidade, falta de seriedade, postura inadequada ou ainda, pasmem, falta de espiritualidade. Algumas pessoas trazem dentro de si uma informação implantada, como um chip, que censura toda vez que vê alguém rindo. Há que ache que exista excesso de bom humor e classifica aquele que ri à toa como “bobo alegre”.
O que leva pessoas acharem que não rir passa a impressão de respeitabilidade e espiritualidade?
Nestas férias eu descobri isto também. Foi num desses canais de cultura.Tudo tem a ver com a história do cristianismo e a igreja oficial.
No começo do cristianismo os cristãos de Roma eram despedaçados na arena pelos leões. Alguns deles traziam escritos no corpo nome de pratos apreciados pelas pessoas, como se fossem as refeições dos leões. Todo esse sofrimento e humilhação eram para provocar riso na platéia enlouquecida pela maldade.
No século IV, quando Constantino, o Imperador, se tornou cristão a igreja cristã passou a ser divinizada como o imperador. A igreja, então, proibiu o riso e excomungou todos os atores que provocavam risos com sua arte.
Durante mil anos o riso foi proibido, voltando na idade média, mesmo contra a determinação da igreja. O rei Luís da França costumava rir, mas nunca às sextas feiras, dia em que Cristo morreu.
A necessidade do riso gerou o Festival dos Bobos e surgiram as companhias circenses com anões, deformados e felinos. Surge, nesta época, a figura do “bobo da corte”. Ele era um sujeito que podia falar o que quisesse, sem ser punido, até criticar o rei, desde que os fizesse rir. E o riso voltou ao cenário da história, mas sob os protestos da igreja católica.
O riso, durante muito tempo foi símbolo de pecado e vinculado a divertimento às custas do sofrimento alheio. Esse ranço do catolicismo da idade média passou para os nossos arraiais e alguns de nós associamos o riso a algo pernicioso. “O profundamente espiritual não ri”. Eu não tenho culpa se os romanos riam às custas da morte dos cristãos. Eu rio porque é uma manifestação de alegria e melhora o meu estado de espírito e até a minha saúde.
Normalmente as pessoas que não riem, são azedas até consigo mesmas. Ou porque não acham motivo para rirem, ou porque, mesmo tendo motivos, não se permitem rir. Mesmo sem saber porquê, acham que não devem.
Está explicado porque a igreja proibiu o riso por mais de mil anos. Ela achava que estava venerando a memória dos mártires que provocaram risos pelo seu sofrimento. Mas e nós, por que não podemos rir?. O problema não estava no riso, mas na maldade de quem ria.
Se você sentia que tinha alguma coisa dentro de você que dizia que rir não é espiritual, agora descobriu que foi a igreja vendeu esta idéia por séculos. Seus problemas acabaram.
Solte uma gargalhada no seu quarto para treinar, depois não segure quando tiver vontade de rir, desde que não seja às custas da humilhação de alguém, porque isso só faz bem à saúde.
Nesta igreja é permitido rir.
Um abraço

SERMÃO DE DOMINGO 10/02


EU, ESAÚ E DEUS - Gênesis 25. 27-34


INTRODUÇÃO
Um dos pressupostos da hermenêutica é que nenhum leitor é neutro. À medida que lê, faz sua própria interpretação à luz de sua experiência pessoal, seu valores, sua visão de mundo.
Uma leitura difícil de se fazer, sem tomar o partido de Esaú e odiar Jacó, é esse episódio da venda da primogenitura por um prato de lentilhas.

Nossos valores morais, éticos e sociais embaçam nossos olhos de forma a não conseguirmos ter, por Esaú e Jacó, os mesmos sentimentos que Deus teve, nem fazer a mesma avaliação que a bíblia faz.
O que está por trás dessa transação de compra e venda é que deve ser considerado e não a narrativa em si. Podemos, a partir dessa análise, também entender porque temos a tendência de tomarmos partido de Esaú. Vamos entender melhor essa tal primogenitura que foi trocada por um prato de lentilhas e causou tanta desgraça.
Primogenitura era uma posição social. Dava primazia e honra sobre os demais irmãos. Em Israel, a porção da herança do primogênito era dobrada. Essa posição era um direito de quem nascia primeiro e só poderia ser perdida em caso de pecado grave ou de venda testemunhada ou sob juramento.

O DESCASO DE ESAÚ E OS VALORES DE DEUS
As próprias características da primogenitura explicam, talvez, o porquê da atitude de Esaú.
- Ele era primogênito natural e não tinha feito nada para merecer. Apenas nasceu primeiro. Não lhe custou nada.
- A primogenitura só é valorizada apenas por quem pensa como Deus. Deus estabeleceu que essa posição era privilegiada. É uma avaliação subjetiva e idealizada por Deus Até no caso de um homem ser casada com duas mulheres, uma que amava e outra não, caso seu primeiro filho fosse da mulher não amada, a primogenitura deveria sobrepor à sua preferência e deveria dar as honras de primogênito a essa criança. (Dt 21:15-17).
- Honra não enche barriga para quem é materialista. Reverência, respeito e honra não representavam nada para pessoas como Esaú.
- A herança em dobro era algo para o futuro, quando o pai morresse. Era uma promessa que poderia nem ser desfrutada. O pai poderia perder tudo ou o filho poderia morrer antes do pai. Um imediatista não valoriza nada além do aqui e agora.

Alguns crentes não conseguem criticar Esaú devido a sua identificação com ele.
- Da mesma forma que Esaú vendeu barato seu direito de primogenitura, alguns têm vendido por quase nada sua posição de filho amado do Pai.
- A posição de filho de Deus é algo do interior, não palpável e não desfrutável humanamente. É posição de honra, valorizada por Deus. Isto não tem sido valorizado o suficiente. E quem chegar com uma proposta tentadora, leva a honra e a posição de filho.
- A herança dos filhos é para o futuro. As promessas, algumas, são para além túmulo. Muitos não se interessam pelo que ainda virá. Aquilo que satisfaz agora prevalece sobre as promessas espirituais a perder de vista.

- A condição de filho foi um presente de Deus que, como não custou nada, às vezes é desprezada. Como esse valor está no coração de Deus e só Ele sabe o quanto custou. Somos guiados pelos valores da sociedade consumista e imediatista que não reconhece os valores espirituais.




AS DESCULPAS DE ESAÚ E A AVALIAÇÃO DE DEUS
Esaú se considerou vítima até quando pôde, depois transformou sua fragilidade em ódio. Ele via se via de um jeito, mas Deus o via de outro.
- Esaú se via um pobre faminto, prestes a morrer. Deus sabia que não estava morrendo de fome. Ninguém more de fome tão facilmente. Além do que, ele vinha do campo e era exímio caçador. Derek Kindner dia que as traduções modernas acabam abrandando a forma como ele se referiu.”Deixe-me engolir um pouco dessa droga vermelha, essa droga vermelha” (Heb)
- Ele se via como uma vítima com sentido de auto preservação. Deus o viu como o profano que desprezou o que Deus valorizava. (Hb.12:16, 17) Um prato de lentilhas (e nem era picanha) valeu mais que sua posição de filho primogênito.
- Ele se achava ludibriado por Jacó nesse episódio. Quando ele foi verdadeiramente enganado ele incluiu esse episódio. “Não é com razão que ele se chama Jacó? Duas vezes me enganou. Tirou-me o direito de primogenitura e agora me rouba a bênção”.(Gn 27.36). Não foi assim que Deus o viu. Deus viu um homem que agiu como se a primogenitura não valesse nada e nem se incomodou em vendê-la. “ ... ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim desprezou Esaú o direito de primogenitura.

A essa altura já é possível perceber porque ficamos inexplicavelmente com pena de Esaú, mesmo sabendo que não é politicamente correto fazê-lo. É nossa identificação com seu modo de encarar as ofertas da vida.
Jacó não era santo. Foi enganador, usurpador, se fez inimigo do seu irmão e colheu o amargo fruto de suas trapaças. Sofreu enganos, trapaças e nada do que ele conseguiu, fraudulentamente, pode desfrutar. Precisou fugir e deixando tudo para traz, sofrendo para reconstruir sua vida.
Jacó foi tudo de ruim nesse episódio, mas não obrigou seu irmão a nada. Somos solidários a Esaú porque, às vezes, adotamos a mesma postura e damos as mesmas desculpas.

- Às vezes, como Esaú, por não valorizarmos o suficiente a nossa posição de filhos, facilmente nos vendemos às ofertas de satanás.
- Às vezes, como Esaú, preferimos desfrutar o que é palpável e presente do que viver as promessas.
- Às vezes, como Esaú, aquilo satisfaz a minha vontade agora tem prioridade sobre a glória de “ser” um filho de Deus que agrada a Deus.
- Às vezes, como Esaú, não pensamos no futuro.Nem nas bênçãos que perderemos, nem nas conseqüências amargas que sofreremos. Vejo essa inconseqüência em várias situações:
. No moço que se sente bem saindo com amigos imorais, faz o que não deve e depois sofre as conseqüências de vergonha e dor.
. Na moça que se veste escandalosamente e depois passa pelo constrangimento do assédio selvagem, quando não do ataque de um doido e de ouvir comentários depreciativos. Ou ainda a moça que fica com todo mundo e depois se queixa que ninguém a vê como uma moça para casar, só para passar tempo.
. No adulto que age desonestamente para satisfazer uma necessidade momentânea criando sérios problemas morais e espirituais.
- Essa solidariedade com Esaú vem da identificação com ele, principalmente nas desculpas pelo pecado. Esaú achou que era impossível não ceder à oferta de Jacó, culpou seu irmão pelo seu erro e não considerou seu erro como erro.

CONCLUSÃO
Esaú foi tentado a vender seu direito de primogenitura. Uma posição de honra instituída por Deus. Nisto todos nós nos identificamos com ele.
A todo o momento somos tentados a trocar nossa posição gloriosa de filhos de Deus por uma refeição de prazer, ousadia, resultados rápidos, identificação com os valores do mundo.
Esaú escolheu ceder porque não achou que valesse a pena esperar desfrutar dos privilégios de sua posição. Nisto nos podemos diferir de Esaú.
Pecar é opção e ninguém nos obriga a pecar.
Podemos ser solidários a Esaú nos seus argumentos, atitudes e desculpas ou assumir uma posição diferente diante das ofertas de satanás para trocar nossa posição honra e as glórias futuras e por satisfação ou privilégios momentâneos.