segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

SERMÃO DE DOMINGO 10/02


EU, ESAÚ E DEUS - Gênesis 25. 27-34


INTRODUÇÃO
Um dos pressupostos da hermenêutica é que nenhum leitor é neutro. À medida que lê, faz sua própria interpretação à luz de sua experiência pessoal, seu valores, sua visão de mundo.
Uma leitura difícil de se fazer, sem tomar o partido de Esaú e odiar Jacó, é esse episódio da venda da primogenitura por um prato de lentilhas.

Nossos valores morais, éticos e sociais embaçam nossos olhos de forma a não conseguirmos ter, por Esaú e Jacó, os mesmos sentimentos que Deus teve, nem fazer a mesma avaliação que a bíblia faz.
O que está por trás dessa transação de compra e venda é que deve ser considerado e não a narrativa em si. Podemos, a partir dessa análise, também entender porque temos a tendência de tomarmos partido de Esaú. Vamos entender melhor essa tal primogenitura que foi trocada por um prato de lentilhas e causou tanta desgraça.
Primogenitura era uma posição social. Dava primazia e honra sobre os demais irmãos. Em Israel, a porção da herança do primogênito era dobrada. Essa posição era um direito de quem nascia primeiro e só poderia ser perdida em caso de pecado grave ou de venda testemunhada ou sob juramento.

O DESCASO DE ESAÚ E OS VALORES DE DEUS
As próprias características da primogenitura explicam, talvez, o porquê da atitude de Esaú.
- Ele era primogênito natural e não tinha feito nada para merecer. Apenas nasceu primeiro. Não lhe custou nada.
- A primogenitura só é valorizada apenas por quem pensa como Deus. Deus estabeleceu que essa posição era privilegiada. É uma avaliação subjetiva e idealizada por Deus Até no caso de um homem ser casada com duas mulheres, uma que amava e outra não, caso seu primeiro filho fosse da mulher não amada, a primogenitura deveria sobrepor à sua preferência e deveria dar as honras de primogênito a essa criança. (Dt 21:15-17).
- Honra não enche barriga para quem é materialista. Reverência, respeito e honra não representavam nada para pessoas como Esaú.
- A herança em dobro era algo para o futuro, quando o pai morresse. Era uma promessa que poderia nem ser desfrutada. O pai poderia perder tudo ou o filho poderia morrer antes do pai. Um imediatista não valoriza nada além do aqui e agora.

Alguns crentes não conseguem criticar Esaú devido a sua identificação com ele.
- Da mesma forma que Esaú vendeu barato seu direito de primogenitura, alguns têm vendido por quase nada sua posição de filho amado do Pai.
- A posição de filho de Deus é algo do interior, não palpável e não desfrutável humanamente. É posição de honra, valorizada por Deus. Isto não tem sido valorizado o suficiente. E quem chegar com uma proposta tentadora, leva a honra e a posição de filho.
- A herança dos filhos é para o futuro. As promessas, algumas, são para além túmulo. Muitos não se interessam pelo que ainda virá. Aquilo que satisfaz agora prevalece sobre as promessas espirituais a perder de vista.

- A condição de filho foi um presente de Deus que, como não custou nada, às vezes é desprezada. Como esse valor está no coração de Deus e só Ele sabe o quanto custou. Somos guiados pelos valores da sociedade consumista e imediatista que não reconhece os valores espirituais.




AS DESCULPAS DE ESAÚ E A AVALIAÇÃO DE DEUS
Esaú se considerou vítima até quando pôde, depois transformou sua fragilidade em ódio. Ele via se via de um jeito, mas Deus o via de outro.
- Esaú se via um pobre faminto, prestes a morrer. Deus sabia que não estava morrendo de fome. Ninguém more de fome tão facilmente. Além do que, ele vinha do campo e era exímio caçador. Derek Kindner dia que as traduções modernas acabam abrandando a forma como ele se referiu.”Deixe-me engolir um pouco dessa droga vermelha, essa droga vermelha” (Heb)
- Ele se via como uma vítima com sentido de auto preservação. Deus o viu como o profano que desprezou o que Deus valorizava. (Hb.12:16, 17) Um prato de lentilhas (e nem era picanha) valeu mais que sua posição de filho primogênito.
- Ele se achava ludibriado por Jacó nesse episódio. Quando ele foi verdadeiramente enganado ele incluiu esse episódio. “Não é com razão que ele se chama Jacó? Duas vezes me enganou. Tirou-me o direito de primogenitura e agora me rouba a bênção”.(Gn 27.36). Não foi assim que Deus o viu. Deus viu um homem que agiu como se a primogenitura não valesse nada e nem se incomodou em vendê-la. “ ... ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim desprezou Esaú o direito de primogenitura.

A essa altura já é possível perceber porque ficamos inexplicavelmente com pena de Esaú, mesmo sabendo que não é politicamente correto fazê-lo. É nossa identificação com seu modo de encarar as ofertas da vida.
Jacó não era santo. Foi enganador, usurpador, se fez inimigo do seu irmão e colheu o amargo fruto de suas trapaças. Sofreu enganos, trapaças e nada do que ele conseguiu, fraudulentamente, pode desfrutar. Precisou fugir e deixando tudo para traz, sofrendo para reconstruir sua vida.
Jacó foi tudo de ruim nesse episódio, mas não obrigou seu irmão a nada. Somos solidários a Esaú porque, às vezes, adotamos a mesma postura e damos as mesmas desculpas.

- Às vezes, como Esaú, por não valorizarmos o suficiente a nossa posição de filhos, facilmente nos vendemos às ofertas de satanás.
- Às vezes, como Esaú, preferimos desfrutar o que é palpável e presente do que viver as promessas.
- Às vezes, como Esaú, aquilo satisfaz a minha vontade agora tem prioridade sobre a glória de “ser” um filho de Deus que agrada a Deus.
- Às vezes, como Esaú, não pensamos no futuro.Nem nas bênçãos que perderemos, nem nas conseqüências amargas que sofreremos. Vejo essa inconseqüência em várias situações:
. No moço que se sente bem saindo com amigos imorais, faz o que não deve e depois sofre as conseqüências de vergonha e dor.
. Na moça que se veste escandalosamente e depois passa pelo constrangimento do assédio selvagem, quando não do ataque de um doido e de ouvir comentários depreciativos. Ou ainda a moça que fica com todo mundo e depois se queixa que ninguém a vê como uma moça para casar, só para passar tempo.
. No adulto que age desonestamente para satisfazer uma necessidade momentânea criando sérios problemas morais e espirituais.
- Essa solidariedade com Esaú vem da identificação com ele, principalmente nas desculpas pelo pecado. Esaú achou que era impossível não ceder à oferta de Jacó, culpou seu irmão pelo seu erro e não considerou seu erro como erro.

CONCLUSÃO
Esaú foi tentado a vender seu direito de primogenitura. Uma posição de honra instituída por Deus. Nisto todos nós nos identificamos com ele.
A todo o momento somos tentados a trocar nossa posição gloriosa de filhos de Deus por uma refeição de prazer, ousadia, resultados rápidos, identificação com os valores do mundo.
Esaú escolheu ceder porque não achou que valesse a pena esperar desfrutar dos privilégios de sua posição. Nisto nos podemos diferir de Esaú.
Pecar é opção e ninguém nos obriga a pecar.
Podemos ser solidários a Esaú nos seus argumentos, atitudes e desculpas ou assumir uma posição diferente diante das ofertas de satanás para trocar nossa posição honra e as glórias futuras e por satisfação ou privilégios momentâneos.

Um comentário:

Anônimo disse...

A partir desta mesagem, percebi oquanto minha vida tem sido feita de trocas e mais trocas, por mínimas coisas, que pasam despercebidas. Pedi ao Espírito Santo que pudesse ser mais sensível a estas trocas, e foi, simplismente impressionante como Deus nos alerta e nos orienta. è somente buscarmos santificação a todo momento.
Parabéns Pastor Sidnei e muito Obrigado.
Fábio micheloni