sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pastoral de 23 de Novembro

O QUE SÃO ESSAS PEDRAS?


Você costuma guardar tranqueiras? Eu guardo. De vez em quando sou forçado a jogar fora um monte de velharia, porque está ocupando espaço. Confesso que, às vezes, desobedeço a Sandra e só mudo o lugar onde estava guardado

Você se lembra de alguma vez estar arrumando caixas e armários e seu filho perguntar o que é tal objeto? E, como se voltasse um filme, você reviu toda a cena envolvida com aquele objeto? Há coisas que nos remetem a episódios importantes da nossa história e, só de revê-lo, tudo fica muito vivo na memória.

Deus, sempre que um episódio devesse ser lembrado por gerações, mandava o líder separar algum objeto e guardá-lo para memória do povo.

O episódio da travessia do Rio Jordão não poderia ser esquecido (Js 4.1-7). Deus disse a Josué que um representante de cada tribo pegasse um pedra do lugar onde os sacerdotes ficaram parados no meio do rio enquanto as águas se abriram e o povo passou a pé enxuto. A razão está no v.6 e 7. “para que isto vos seja por sinal entre vós , e quando vossos filhos, no futuro, perguntarem: Que vos significam essas pedras?, então lhes direis que as águas do Jordão foram cortadas diante da arca da Aliança do Senhor... Essas pedras serão, para sempre, por memorial para os filhos de Israel.”

Há uma expressão popular que diz que brasileiro tem memória curta por votar no mesmo mal político ou por se esquecer dos ídolos do passado. Os crentes são piores ainda, porque sua falta de memória não só reflete ingratidão para com Deus e como lhe induz a repetir decisões precipitadas ou equivocadas.

O fim do ano está chegando, e com ele aqueles inevitáveis balanços pessoais, que na verdade são mais comparações do que balanços. Comparação do nosso progresso em relação ao ano anterior ou comparação daquilo que conseguimos em relação ao vizinho que sabe menos, trabalha menos do que noós. É assim que tem terminado nossos anos. “O que eu fiz?”

E o que Deus fez para você, por você, na sua família, na sua igreja?

Como você não guardou uma pedra para cada intervenção clara e sobrenatural de Deus, você precisa, agora, fazer um grande esforço mental para lembrar. Eu vou iniciar lembrando quantas pedras eu deveria ter guardado no meu gabinete.

Quando a igreja demonstrou tanto amor por mim em janeiro,
Quando levantou pessoas de Deus para lugares aparentemente insubstituíveis.
Quando alguns irmãos decidiram, ao invés de desanimar, buscar mais a Deus em oração para que Deus agisse na igreja.
Cada vez que um milagre era compartilhado nos cultos de oração.
Quando jovens, por iniciativa própria, reuniram-se para buscar santidade diante do Senhor.
Quando, na reunião de liderança de domingo, eu percebi que Deus havia mudado a visão da igreja, quanto à responsabilidade social,a partir de um trabalho simples com crianças do bairro iniciado pela Valéria, Simone e algumas adolescentes.

Ou ainda como Deus multiplicou nossos poucos recursos financeiros e fez superabundar em generosidade nossos irmãos na doação para a igreja durante este ano.

Eu deveria ter guardado pedras. Assim eu me lembraria mais do que Deus fez em Jardim Utinga em 2008. Mas graças a Deus lembrei ainda em tempo de glorificá–lo.

Essas pedras fazem falta. Se você as tivesse, e seu filho lhe perguntasse o que elas lhe representam, você poderia ensiná-lo a ser mais agradecido a Deus e a amar mais a igreja e ver que a “mão de Deus está aqui”. Poderia aproveitar e ensiná-lo que vida cristã é serviço e não lazer, e que serviço cansa, machuca, traz crítica injusta, mas realiza e atrai bênção.

Quando ele perguntasse sobre o significado das pedras você poderia ensinar que foram vitórias de Deus mesmo no medo, no desânimo, na fraqueza e até na fragilidade da fé, porque a vitória vinha do Senhor. Você poderia ensiná-lo a não desanimar nunca, porque nosso papel é lutar e o de Deus é dar a vitória.

Essas pedras fazem falta, porque nós também precisamos ser lembrados. Muitos não se lembram o que Deus fez. Alguns já desanimaram, entregaram os pontos e, para não ver uma necessidade que não vão suprir, vão ser expectadores em outras igrejas. “Longe dos olhos, longe do coração” .

Tenha pedras, pelo menos imaginárias no coração, como memorial da ação de Deus. Sem pedras, sem memória, Sem memória, sem gratidão. Sem gratidão, sem devoção. Sem devoção, morte.

Se não houver lembranças, seu filho não saberá do poder de Deus e não saberá o quanto Deus ama a igreja e ele também não amará a igreja, porque a memória se perdeu pelo caminho por falta de pedras

Fiquem na paz
Pr. Sidnei

sábado, 8 de novembro de 2008

COISAS DO COTIDIANO

A PROFESSORA BERNARDINA E O HOMEM DA VOZ ESGANIÇADA

Das atitudes malucas que eu tomei na vida, uma delas foi, em 1981, sair da Faculdade de Engenharia e entrar na Faculdade de Matemática com um filho recém-nascido. Além de ter causado uma tremenda sobrecarga à minha jovem esposa, não tive quase nenhum aproveitamento nos estudos. Uma das coisas, porém, de que não me esqueço; as aulas da professora Bernardina. Ela dava aulas de Cálculo às segundas feiras e de Lógica aos sábados à tarde. Era uma senhora alta, quase nunca sorria e sempre usava um lenço no pescoço. Estar num sábado à tarde na faculdade, depois de ter trabalhado e estudado a semana toda e ainda com um filho em casa que poderia estar curtindo ou ajudando a esposa, tornava a cena tão “ilógica” que, estando lá, o mais “lógico” seria prestar atenção nas aulas de Lógica da professora Bernardina.

Ela chamava de “silogismo” o raciocínio formado por três proposições. A premissa maior, a premissa menor e a conclusão. Admitidas as premissas como verdadeiras, a conclusão se deduz da premissa maior por intermédio da menor.

Você pode não ter entendido a Bernardina, mas entende a bíblia quando faz um silogismo. Todo ser humano precisa de Deus (premissa maior) eu sou um ser humano (premissa menor); logo, eu preciso de Deus (conclusão).

Nesta semana, um pregador radiofônico me fez voltar, em pensamento, às aulas de lógica de 1981. Ele disse: “Se você deu sua oferta para esse programa, nós estamos, em jejum, obrigando Deus a te enriquecer porque você está ajudando a pregar a Palavra e Deus não tem escolha. Você deu, Ele tem que te dar. Nós estamos aqui para lembrar Deus do compromisso dEle”. Viajei no pensamento de como a Professora Bernardina analisaria a proposição “Deus ama ao que dá com alegria” (2Co 9.7), um texto que, em tese, contradiz o mercenário radiofônico em questão.

Uma forma de silogismo seria: 1)Deus ama ao que dá oferta com alegria 2) eu dou oferta com alegria; logo, Deus me ama. Mas pode ser também: 1) Deus ama ao que dá com alegria 2) dar com alegria é doar pelo prazer de doar sem exigir nada em troca; logo, Deus ama ao que dá pelo prazer de dar sem exigir nada em troca.

As pessoas que, iludidas pelo argumento desses mercenários, ofertam pensando estar fazendo um negócio lucrativo com Deus, comprando o amor de Deus, enganam-se redondamente. Por ser Deus, Ele nos ama pela necessidade que temos do Seu amor. Ninguém pode comprar ou merecer o amor de Deus. Nada que façamos pode aumentar ou diminuir o amor de Deus por nós.

Deus ama aquele que, por retribuição ao amor de Deus, sem pesar e não forçado, ajuda aos necessitados, mas se ofende com aquele que acha que pode comprá-lo ou extorqui-lo por um dinheiro que Ele mesmo lhe deu. É uma afronta à Sua inteligência.

Acho que Professora Bernardina não aprovaria a hermenêutica do homem de voz esganiçada e trejeitos amalucados. Nem tanto pelo temor reverente a Deus, porque, se me lembro, a professora nunca mencionou essa característica, muito mais pela lógica que rege qualquer ser humano ao analisar 2Co 9.7 e perceber que uma oferta não pode forçar Deus a abençoar, muito menos uma oferta coagida, arrancada, interesseira e sem alegria. Deus não nos ama mais quando damos oferta. Ele se alegra mais quando percebe o exercício prático do nosso amor por aquilo que Ele nos deu.

Acho que me empolguei nas minhas reminiscências. Parece que minha lógica não é tão lógica assim e, “lógica que rege qualquer ser humano”, foi um exagero. Se assim fosse, esses mercenários não sobreviveriam à custa de tantos seres humanos.

Agradeci a Deus pela professora Bernardina, que nunca mais vi desde 1981, por ter me ensinado Lógica. Seu silogismo, Bernardina, talvez tenha ajudado outras pessoas a escaparem das armadilhas hermenêuticas dos aproveitadores de plantão.