terça-feira, 9 de agosto de 2011

IRONIAS DO DIA DOS PAIS

Ontem fez um ano que enterrei meu pai. Ironicamente na hora do almoço do dia dos pais.

Pela distância de 550 km e pelos compromissos de pastor , os últimos anos foram ausentes de toda celebração de família. Natal, Ano novo, Aniversários e, claro, Dia dos Pais se resumiram a telefonemas de felicitações. As visitas eram sempre nas férias. É muito pouco para quem deve tanto aos pais.

Meu primogênito, que hoje tem trinta anos, nasceu numa sexta-feira que antecedeu o dia dos pais. Minha esposa ainda estava no hospital e eu já recebia meu primeiro presente do dia dos pais na igreja. Nunca me esqueci. Foi um pente (que hoje não serviria para nada) e um lenço (que é o que eu mais preciso hoje). Nunca me senti tão importante.

Vinte e nove anos depois, no aniversário do meu filho, eu que não pude estar com meu pai nos últimos vinte "Dia dos Pais", deixei tudo, viajei e estava ali para enterrá-lo. Nunca me senti tão inútil.

São ironias, mas nem todas do destino. Se eu não tive influência em ser pai tão perto do dia dos pais, tive em só estar perto do meu pai naquele dia dos pais em especial.

Não haverá um amigo na terra igual ao Seu Arlindo, mas ainda há outros e eu estou descobrindo a duras penas que o tempo não para, estando perto ou longe. Que os anos ficam mais curtos quando a gente envelhece e que uma perda dói muito mais quando se perdeu tempo não estando junto.

Ainda tenho mãe, irmãs, esposa, filhos noras e netas. Tenho bons amigos espalhados por aí que, teimosamente, vejo pouco. Que a misericórdia de Deus me permita aprender a desfrutar de suas companhias por muito tempo.

Um escritor brincou, uma vez, dizendo que suas melhores idéias foram roubadas por aqueles que viveram antes dele. Digo isso de Fernando Pessoa que me roubou as palavras que eu queria dizer nesse Dia dos Pais sem meu pai. Meu melhor amigo.

Ao meu grande amigo

"Um dia, a maioria de nós irá se separar.

Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora,
as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que compartilhamos.

Sentiremos saudades até dos momentos de lágrimas,
da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano,
enfim... do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje, não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve, cada um vai para um lado, seja pelo destino,
ou por algum desentendimento, e seguirá a sua vida.
Talvez, continuemos a nos reencontrar, quem sabe...
através dos e-mails trocados. Podemos nos
telefonar, conversar algumas bobagens...
Aí os dias vão passar, meses. anos...
até este contato, tornar-se-á cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo...

Um dia, nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão:
'Quem são aquelas pessoas?'
E, diremos... que eram nossos amigos. E...
isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, e foi com eles que vivi
os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
E quando nosso grupo estiver incompleto...
nos reuniremos para um último ADEUS de um amigo.
E entre lágrimas, nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado, para continuar a viver a sua
vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo:
não deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades,
seja a causa de grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa