quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

QUAL O VALOR DE UM LÁPIS?

Um tributo a Antônio Manoel dos Santos

Lápis foi um dos produtos, juntamente com pente masculino, caixa de fósforos, dedal de costura, prendedor de roupas e outros, que ninguém, de uma série de entrevistados por um programa de televisão, tinha noção do preço. As repostas variaram em mais de 3.000% para o mesmo produto. Eu também não sei quanto custa um lápis, mas sei qual o seu valor quando bem utilizado.

Quando eu digo bem utilizado, não me restrinjo ao uso da grafite que nele há e que permite aos poetas produzirem textos que encantam, ou aos engenheiros fazerem projetos que revolucionam ou mesmos aos artistas a fazerem dos traços sua forma de emocionar.

Não, amigos, não é disso que falo. Me refiro magia que havia no lápis que o irmão Antônio trazia no bolso interno do seu paletó sempre alinhado e a forma como ele o retirava para entregar ao grande vencedor do dia. Não era apenas um lápis, era um troféu. A emoção da entrega e a ênfase com que ele anunciava o ganhador tornavam o momento ímpar. Era, para um menino de dez ou doze anos, a mesma emoção que sente um jogador de futebol ao ouvir seu nome anunciado para ganhar a bola de ouro.

Para entender o valor desse lápis com poderes mágicos é preciso voltar quarenta anos no tempo. Uma classe de intermediários, que depois passou a classe de adolescentes e hoje são os “teens”. A reunião se repetia no mesmo modelo domingo após domingo. Um adolescente dirigia os trabalhos, alguém apresentava uma música, os grupos falavam seus pontos e ao final, as perguntas da bíblia feitas pelo irmão Antônio, nosso líder, que falava como se fora um grande general e nos envolvia neste clima fazendo-nos sentir, também, soldados valorosos.

Era um homem calmo, de gestos leves, sorriso discreto, voz mansa e que nunca perdeu a linha com nenhum daqueles que liderava. Era admirável sua habilidade de tirar do bolso um lápis para dar ao vencedor do dia como quem entrega um grande troféu de ouro maciço. Todos queriam ganhar o lápis. Alguns, menos humildes, entravam no templo para o culto exibindo seu troféu do sábio do dia. Eu era um deles. Eu me sentia o maioral quando ganhava. Haviam muitos que eram melhores do que eu.

Hoje ainda não sei quanto custa um lápis, mas eu sei o valor daquele lápis em particular. Aquele lápis fez de todos, vencedores, porque aprendemos a amar o estudo da Palavra de Deus. Aquele lápis, talvez, tenha salvado carreiras profissionais, porque ensinou que é preciso esforço para ser recompensado. Aquele lápis deve ter salvado relacionamentos porque muitas vezes ensinou renúncia. Quando havia empate alguém tinha que ceder.

Aquela geração foi privilegiada. Aquele lápis imprimiu marcas tão profundas no caráter daqueles pré-adolescentes que, hoje, quando nos encontramos pastores, advogados, líderes de igrejas, de grandes corporações, empresários bem sucedidos, agricultores, etc, ainda comentamos do lápis do irmão Antônio.

Há pouco tempo o Senhor o recolheu. Morreu como viveu: sorrindo, falando das coisas de Deus, influenciando positivamente alguém. Sua morte interrompeu a organização da terceira igreja que ele começara do nada. Para ser justo, na verdade não era nada: Uma bíblia na mão, um caderno com hinos do Oséias de Paula que ele insistia em fazer solos, sua companheira fiel ao lado e, certamente, um lápis no bolso. Um infarto fulminante interrompeu uma alegre conversa com um irmão em Cristo e, pela primeira vez, deixou alguém falando sozinho.

Faltarão lápis para escrever o quanto esse homem contribuiu na formação de toda uma geração de meninos e meninas que, há quarenta anos, apenas queriam ganhar o lápis do irmão Antônio sem saber o que isso representaria para suas vidas.